No dia seguinte a Camila, a mãe dela e eu fomos fazer
os exames. Ficamos a manhã inteira no hospital, e Camila não parou de reclamar,
ela estava muito chata. Mas se eu soubesse o que estava acontecendo, não teria
me irritado, teria apoiado, teria chorado...
Saímos do hospital e fomos almoçar em um restaurante
próximo dali, e Camila ainda estava reclamando, mas Sílvia, a mãe de Camila,
perdeu a paciência que manteve durante a manhã. As duas começaram a discutir.
-Camila, chega de reclamar, você não foi a única que
teve de desmarcar compromissos importantes. Eu trabalho, lembra?! E a Laura
também estuda, então chega, porque você não perdeu nada sozinha!
-É, mas nenhuma de nós três teríamos perdido nada, se
você não tivesse essa sua neura de que tudo é grave, de que tudo pode
ser uma doença séria!
-Me desculpe por me preocupar com você, que é minha
filha, e do nada desmaia e diz sentir dor na cabeça! Camila, acorda minha
filha. Isso pode ser grave sim, precisamos fazer exames para saber o que é, e
se é ou não grave!
-Mãe, só porque alguém que você amava morreu sem
saber o que era a doença, não quer dizer que eu também vou morrer!
-Como você disse, eu já perdi alguém muito especial,
sem saber a causa, e eu me recuso a passar por isso novamente!
Depois disso as duas se calaram.
Três dias depois, o resultado dos exame ficou pronto,
e foi direto para o consultório do médico que estava acompanhando Camila.
Sílvia e Camila foram ao consultório, mas eu não pude acompanhá-las. A noite,
estava estudando e de repente minha mãe entrou no meu quarto dizendo que a
camila estava no telefone.
-Oi Camila, como foi lá, o que o resultado mostrou? É
grave ou não? Fala logo!
-Quando você parar de falar eu começo. Bom... ou
melhor, ruim, o resultado é muito ruim, na verdade é péssimo... -Ela começou
chorar.
-O que deu?
-Então, se eu soubesse o que eu tinha, não teria sido
tão injusta com a minha mãe. O resultado apontou que estou com uma doença
grave. Até hoje só dez pessoas tiveram essa doença. E nenhuma delas está viva.
-Que doença que é?
-Os médicos não sabem o que é...
-Então como sabem que dez pessoas tiveram?
-Os resultados dos exames delas são muito parecidos
com o meu, e os sintomas também são os mesmos.
-Mas quando ocorreu o primeiro caso?
-Laura, eu não sei, acho que há uns quinze anos, ou
menos, não sei. Só sei que... que eu tenho mais dois meses de vida.
-O que? Como assim? Você não pode viver só por dois
meses! Você... você é minha melhor amiga, minha irmã, minha companheira, não
pode simplesmente morrer!
-Você acha que quero morrer? Acha que estou feliz?
Como acha que estou me sentindo, sabendo que não vou conseguir realizar os meus
sonhos? Me casar, ter filhos, nem terminar a universidade vou conseguir. Se
coloca no meu lugar!
-Eu não disse que você está feliz, nem que você quer
morrer, eu sei de tudo isso. Mas por que só dois meses, o que é essa doença?
-Você ouviu eu dizer que os médicos não sabem? Então!
Só dois meses porque é no cérebro, e é uma doença que o cérebro vai parando.
Agora são desmaios e dores de cabeça, se for como nas outras pessoas, em breve
não estarei andando, irei perder a memória, não vou mais falar, e tudo vai
parando...
-Mas é um vírus, bactéria, o que?
-Eles não sabem, é algo diferente "novo".
-Então, se você tem apenas mais dois meses de vida, é
hora de realizar seus sonhos. E eu, vou ajudar você com isso. Você é minha
irmã, e mesmo depois de dois meses, você sempre será minha melhor amiga, minha
irmã, e agora eu só quero ver você feliz!
-Eu preciso desligar, minha mãe está muito triste.
Beijo.
Eu chorei a noite toda, chorei muito, e não consegui
dormir por nem um minuto. Eu não sabia o que fazer, eu pensava que a minha
amiga só estaria comigo por apenas dois meses, mas na verdade, ela está comigo
até hoje, não como antigamente, mas ela está comigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário