21 de jul. de 2013

Algo de Insano: XI - Algo de insano

   Depois dos dois dias que passei dormindo, muitas coisas aconteceram com as pessoas ao meu redor. Eu perdi minhas pernas e "ganhei" uma infecção nos meus órgãos vitais do abdome, pra compensar a perda das pernas. Meus pais estavam ficando loucos com os acontecimentos daqueles últimos dias, e a minha mãe não parou de chorar desde que soube do acidente. O Pedro estava bem, quebrou uma das pernas, mas não perdeu nenhum membro, e também não teve infecção nenhuma. E para finalizar a minha listinha, Camila estava beirando a morte. Segundo o médico, a atividade cerebral dela estava praticamente parada, ou seja estava mais parada que as minhas pernas, e eu nem tinha mais pernas! Quando o médico foi dar a notícia sobre Camila, ele não foi falar apenas isso:
   -Bom dia, Laura. Bom, eu nem sei por onde começo, mas vamos lá. Como sabe, sua amiga Camila está em uma situação muito complicada. Essa doença desconhecida não permite que a pessoa viva por muito tempo depois de infectada. Sua amiga tinha alguns meses de vida, mas infelizmente ela não vai aguentar por mais de três dias. O corpo dela está em perfeito estado, já que o cérebro é o órgão atingido pela doença. Claro que pelo fato do cérebro estar sem atividade, outros órgãos são atingidos.
   -Nossa, cada notícia boa estou recebendo hoje, hein!
   -Sei que é difícil, mas eu não terminei de falar. Você também não está em uma situação boa. Perdeu as pernas devido ao acidente, e contraiu uma infecção muito perigosa. A sua infecção está concentrada nos órgãos do abdome, quando atingir seu coração, será o seu fim.
   -Ótimo!
   -Laura, preciso que ouça o que vou lhe dizer agora com muita atenção. Há algum tempo, um grupo de médicos e cientistas da Alemanha começaram estudar o transplante de cérebro. É uma cirurgia delicada, e se alguma coisa der errado, pode levar à morte dos dois corpos. Mas se tudo correr como planejado, o corpo de uma pessoa pode continuar vivo, com o cérebro de outra. Esses médicos e cientistas vieram para o Brasil e avaliaram a situação sua e da Camila. Pensamos em colocar o seu cérebro, que está perfeito, no corpo da Camila,que está em bom estado. Se você concordar, esse será o primeiro transplante de cérebro no mundo. O que acha?
   -O que acho? O que acho? Acho que isso é insano! Isso é estanho, e eu não consigo imaginar como o meu cérebro vai funcionar no corpo da Camila. Acha mesmo que o corpo dela vai obedecer o meu cérebro?
   -Bom, de acordo com as pesquisas vai, sim.
   -Esqueça as pesquisas. Quem iria morrer, eu ou a Camila?
   -As duas iriam morrer, e as duas iriam sobreviver. Você tem o que a Camila não tem, e ela tem o que você não tem.
   -Prefiro morrer no meu corpo mesmo, e ver ela morrendo no dela.
   -Tanto os seus pais, como os pais da Camila apoiaram a ideia.
   -Claro que eles apoiaram! Eles vêem a possibilidade de suas filhas sobreviverem, mas na verdade, nenhuma de nós vai sobreviver.
   -É melhor perdemos um paciente do que dois. E dessa forma salvaremos os dois.
   -Não! Dessa forma perderão os dois!
   -Bom, vou deixar você pensar melhor a respeito disso, caso mude de ideia, mande me avisar imediatamente. Não temos muito tempo, o cérebro da Camila está morrendo, e a sua infecção está se espalhando.
   Ele saiu do quarto, e eu fiquei lá, sozinha, pensando na possibilidade não apensa de viver, mas também de manter minha amiga viva. E eu gostei da ideia de realizar os nossos planos de um jeito singular, mesmo isso tendo algo de insano.

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