29 de ago. de 2013

A Última Herdeira: III


   Manuela ficou olhando pela janela da cozinha os dois entrando no carro e indo embora, como se tudo o que eles lhe contaram fosse a coisa mais natural no mundo. Correu para seu quarto e se jogou na cama. As lágrimas quentes e os soluços doloridos eram inevitáveis. Ela sentia medo, vergonha, tristeza, raiva, e muitas coisas. Sua cabeça não ia aguentar tudo isso de uma só vez.
   Pensava que era impossível ela ser adotada, pois sua mãe tinha as fotos da gravidez guardas, ela já vira muitas vezes. E essa história de que toda a sua família legítima- se é que existia essa outra família- estava morta. Será que esse colar que ela sempre usou, teria mesmo pertencido à uma bruxa que viveu na idade média?
   Uma dor de cabeça muito forte começou atormentá-la. Agora além de tudo o que descobriu no dia, e tudo o que ela não sabia se acreditava ou não, tinha uma dor que nunca sentira na vida. Sua pressão foi caindo devagar, e após alguns minutos nessa situação, ela desmaiou, e ficou desmaiada por horas. Quando acordou, ouviu voz a de sua mãe vinda do quarto ao lado.
   Levantou rapidamente e correu atrás de Silvia. Quando chegou à porta, deu uma longa analisada no cômodo, aquele quarto abrigava muitas recordações. Os armários espelhados davam a impressão de que o quarto era maior do que realmente era. A cama no centro do quarto trouxe a lembrança de quando era pequena e brincava com Gabriel que era um barco.
   -Manu, o que aconteceu? Cheguei e você estava dormindo, você nunca dorme!
   -Eu sou adotada?- A pergunta acertou Silvia em cheio, ela estava desprevenida.
   -Do que você está falando?
   -Me responde! A verdade, por favor. Eu preciso saber.
   -Está bem, vou lhe contar tudo. Sente aqui ao meu lado, se quiser.- A garota percebeu que a pergunta mexeu com a mãe, e foi sentar-se ao lado dela imediatamente.- Foi na noite do dia 28 de março de 2006. Eu e sei pai já estávamos dormindo quando o interfone tocou...
   "Ele se levantou, acendeu a luz, e vestiu um roupão. Me lembro de perguntar quem era, e ele me responder que não sabia. Ele desceu para atender o portão. Demorou apenas 10 minutos, mas pareceu que demorou horas. Quando voltou, segurava em um braço um monte de cobertas, e em outro, um pequeno papel que tinha alguma coisa escrita. Ele colocou as cobertas no meu colo, e pude ver que era uma linda criança. Quando terminou de ler, me entregou o papel. 
   As palavras que nele estavam escritas eram: Olá, peço desculpas por acordar vocês, mas é um assunto muito importante. Essa criança é minha filha, ela tem apenas 3 dias de vida, e eu a amo muito. E é por amá-la tanto que estou entregando-a para vocês. Não vou me identificar, mas conheço vocês, sei que são boas pessoas, e têm vontade de ter filhos. Cuidem dela como se fosse a sua Manuela. E o mais importante: não deixem que ela descubra que adotada. Mais uma coisa, o colar dela nunca poderá sair de seu pescoço. Obrigada."
   Manuela ouviu tudo com atenção, e a cada palavra que ouvia, tinha mais medo e mais vontade de desaparecer. Estava com raiva por seus pais nunca terem contado sua história pra ela. E tinha mais raiva de sua mãe legítima, por que ela não podia saber da verdade? Era direito seu saber o passado, sua história. E finalmente ela estava descobrindo a verdade.
   -Eu não intendo duas coisas: primeiro, que história é essa de "cuidem dela como se fosse a sua Manuela", e segundo, como tem fotos grávida?
   -Não percebe? Dois anos antes de você nascer, eu engravidei. Sempre quis ser mãe, e sempre quis ter uma filha chamada Manuela. Quando engravidei, a Manuela nasceu com apenas 7 meses. Ela era muito fraquinha e sobreviveu por mais quatro meses. Quando lhe adotamos, demos esse nome em homenagem à nossa primeira filha, e porque eu ainda queria uma filha assim chamada.
   -Vocês tinham que me contar! Eu tinha o direito de saber!
   -Eu sei minha filha! Quando lemos o bilhete, decidimos que íamos te contar quando tivesse uma idade que ia entender. Mas depois de um tempo, descobrimos o porque de você não poder saber. Você é uma bruxa, pode parecer impossível, mas não...
   -Eu sei que sou um a bruxa! 
   -Sabe? Então... é isso, você não podia saber disso.
   -Por que não?
   -Não sabemos ao certo porque, mas sabemos que não podia saber. Nos desculpe minha filha, por favor.
   Manuela saiu correndo para seu quarto, agora, mais do que antes, estava confusa e querendo fugir. Fugir para um lugar onde ela não fosse uma bruxa, e não sentisse o que estava sentindo.
   
   

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