1 de set. de 2013

A Última Herdeira: IV


   Silvia foi atrás de Manuela, mas a menina estava trancada no quarto, e se recusava abrir a porta para a mãe. A mulher batia na porta, gritava o nome da filha, clamava por perdão, e chorava muito. Mas Manuela estava tão perdida em seus pensamentos que não ouvia a mãe, era como se ninguém estivesse implorando para ela abrir a porta. 
   De repente, a garota teve uma ideia que a assustava um pouco, mas era a única coisa que parecia resolver seus problemas. Ela levantou de sua cama rapidamente e pegou seu celular que estava em cima de sua escrivaninha. Pegou o cartão que Thomas tinha deixado pra ela, ligou para ele.
   -Alo?- Ela ouviu aquela fina voz novamente e sentiu um frio na barriga que ela não sabia o porque.
   -Thomas, é a Manu! Eu falei com a minha mãe e ela confirmou toda a história, eu sou adotada mesmo, e meus pais sabem que sou uma bruxa. E as fotos da gravidez, são da primeira gravidez da minha mãe, que não era de mim.
   -Mas que boa notícia! Quero dizer, é bom saber que você sabe de toda a verdade agora, que não é a única que não sabe de sua história. Mas me responda, só me ligou para dar as boas novas, ou quer me dizer mais alguma coisa?
   -Eu quero pedir pra você, e aquela sua colega chata virem aqui em casa e conversarem com meus pais. Agora que tenho certeza que sou uma bruxa, quero aprender usar meus poderes, quero usá-los da melhor maneira possível!
   -Compreendo minha querida, pode deixar, amanhã no fim da tarde estaremos aí para falar com eles, Tudo bem?!
   -Tudo sim, quanto antes eu sair daqui, melhor, amo meus pais, mas estou muito chateada para fingir que eles não fizeram nada.
   Ela foi dormir sem sair de seu quarto. Não queria falar com ninguém, só queria esquecer tudo aquilo por cinco minutos para poder dormir. Quando ela conseguiu dormir teve um sonho um tanto perturbador. 
   "Ela  estava em um lugar que não tinha nada, era tudo preto, não sabia o que era chão, parede e teto, na verdade, nem sabia se havia isso naquele lugar. De longe vinha uma pessoa andando. Parecia uma senhora bem velha, e ela usava um capuz cinza. Seu vestido arrastava no chão e era bem sujo. Quando a mulher estava bem próxima à ela, pode ver que a mulher tinha apenas dois dentes na boca, e eles eram podres. Tinha a feição bondosa, e parecia um tanto cansada.
   -Olá Manuela. Meu nome é Hexe, e eu sou a primeira bruxa que já nasceu no mundo. E você, é a última bruxa que nasceu até hoje. Estou aqui porque preciso lhe dizer uma coisa muito importante: o mundo inteiro depende de você, você precisa salvar todas as pessoas. Vai encontrar muitas pedras no seu caminho, mas transforme-as em uma ponte para chegar até onde deve chegar.
   -Mas onde devo chegar?
   -Você precisa descobrir isso sozinha, e vai descobrir, confie em mim. Você vai conhecer pessoas boas e pessoas ruins, e espero que consiga cumprir o seu dever como a última herdeira. Já dei o meu recado, agora preciso ir. Até mais, e boa sorte.-Hexe virou as costas e foi embora.
   -Espere! Hexe, eu preciso saber mais coisas! Espere!"
   Nesse momento ela acordou com um pulo. Ela estava soando frio, e ficou impressionada com o sonho. Impressionada com o que Hexe disse, e impressionada com a aparência dela. Sempre pensou que pelo fato de as bruxas terem poderes, elas eram bonitas, jovens e diferentes. Mas Hexe não passava de um senhora velha e acabada. Ela tentou dormir, mas não conseguia para de pensar no sonho.
   O dia amanheceu rápido como sempre, e ela já tinha que se arrumar para ir à escola. Manuela queria ver do que mais era capaz além de secar camisetas. Olhou fixamente para o guarda-roupa, pensando nas portas dele se abrindo. Todas as portas do guarda-roupa se abriram do jeito que ela imaginou. 
   Ela visualizou a roupa que queria vestir, e imaginou ela vestida com as roupas. Em um piscar de olhos, estava com a roupa que queria. Desceu para tomar o café da manhã como sempre fazia, e viu seu irmão sentado na cadeira da cozinha.
   -Olha quem resolveu sair da toca! Você está com cara de sono, ficou testando seus poderes a noite toda?
   -Não me enche, seu idiota, você não sabe de nada!
   -Então me conta, quem sabe não posso te ajudar?
   Ela contou tudo que aconteceu no dia anterior para Gabriel. O menino ficou tão perdido quanto ela.
   -Me desculpe, Manu, eu não sabia de nada disso.
   -Eu sei, eu sei, desculpe ter sido grossa com você também.
   Os dois foram pra escola, e Manuela não dirigiu uma palavra à sua mãe, Silvia, fez o mesmo. O dia demorou a passar. Parecia que não tinha fim. Mas finalmente o fim do dia chegou, e quando o interfone tocou, Manuela sentiu calafrios precorrendo seu corpo. Em um ato impensado, segurou o pingente "h" com muita força, como se o objeto fosse protege-la de tudo. E alguns minutos depois, estavam na sala de sua casa, Thomas e Patrícia.


  

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