12 de set. de 2013

A Última Herdeira: IX


   -Lucas, acalme-se, você não pode gritar muito, vão nos ouvir!
   -Eu quero acordar todo mundo mesmo, pelo menos assim eles me matam logo de uma vez e eu não vou precisar ficar aqui sofrendo e olhando pra cara desses falsos e fingir que não sei de nada!
   -Se você quer morre o problema é seu, porque eu não quero, e não vou deixar você me levar à morte!
   -Cale a boca, você não sabe o que é ter alguém que você ama morto!
   -Não sei mesmo, mas talvez queira saber que minha mãe legítima está morta! Morreu três dias depois que eu nasci. E eu e não conheci meu pai legítimo. E ah, conheci meu irmão legítimo ontem. O Augusto.
   -Desculpe, eu não queria magoar você, só queria que ela não estivesse morta.
   Manuela ajoelhou-se na frente de Lucas, enxugou as lágrimas de seu rosto e ergueu o rosto com delicadeza.
   -Eu sei que é difícil, mas você precisa ser forte, você precisa aguentar isso. Ela não morreu em vão, e você precisa fazer valer o esforço dela. Eu vou ter que salvar todo mundo daqui, e para isso vou precisar da sua ajuda. Eu vou estar com você sempre, e ela também. Ela lhe amava, e você vai amá-la para sempre. Mas agora vamos embora daqui antes que nos encontrem!
   -Eu sei disso tudo, mas as câmeras já nos filmaram vindo pra cá. Não adianta fugir.
   A porta abriu-se com um empurrão, e a imagem que apareceu foi um Augusto desesperado com seringas dentro de uma caixa de vidro.
   -Eu trouxe os antídotos! Vamos, me ajudem a injetar o antídoto nela, precisamos ser rápidos, antes que descubram que ela não está na enfermaria. A enfermeira vai acordar daqui a pouco!
   -Augusto, é muito tarde.- Disse Lucas começando a chorar novamente.
   -Como “muito tarde”?
   -A Vitória não aguentou. Mas ela falou para o mim que a única maneira de salvar a todos daqui, é destruindo a caixa marrom. Agora, onde está caixa marrom, ou o que é, eu não sei.
   -Lucas, eu sinto muito por ela. Sinto muito mesmo! E Manu, nós vamos descobrir o que é e onde está esta caixa. Agora, nós precisamos levar o corpo dela para a enfermaria e depois voltarmos para os nossos quartos.
   -Você ficou maluco? Levar o corpo da Vitória para a enfermaria? O que você acha que eles vão fazer? Acha que vão fazer um velório e um enterro descente? Porque eu acho que eles vão dar um jeito de esconder isso! Ela morreu por causa dos remédios que eles injetaram nela!
   -E qual é a sua sugestão?
   -Você pode sair daqui a hora que quiser, desde que não esteja trabalhando. Leve-a para a família dela. Eles vão cuidar dela como deve ser feito!
   -Ótimo. Vou fazer isso mesmo. Vou precisar levar o corpo até meu carro.
   -Eu vou te ajudar. Quero me despedir dela da maneira certa, sem gritar para que ela volte!
   A bruxa passou a mão pelo rosto da garota. Em uma fração de segundos duas lágrimas quentes escorriam pelo seu rosto. Ela nem sabia porque estava chorando se ela não trocou mais do que dez palavras com a elfa. Pensou que o amor verdadeiro e puro de Lucas fez com que ela se comovesse. Estava com dó do menino que havia perdido os pais e agora a namorada.
   Ela entrou em seu quarto e a cor branca a deixava mais triste pelo seu amigo e pela elfa que tinha apenas dezessete anos. Foi até a janela e pôde ver Lucas e Augusto levando uma caixa de teclado para o carro. Não dava para ver os rostos deles, mas sabia que Lucas estava chorando muito.

   O barulho irritante do sinal para acordar tocou e Manuela acordou com um susto. A vontade que ela teve era jogar alguma coisa na caixinha de som e poder voltar a dormir seu sono sem sonhos. Mas o dever era maior que a vontade. Agora que ela sabia de tudo, precisava agir. E ainda não fazia ideia de onde ia encontrar uma caixinha marrom.
   Desceu para tomar seu café e viu Lucas sentado em uma mesa sozinho com a cabeça abaixada. Devia estar chorando. A menina caminhou na direção da mesa pensando no que ia dizer para o menino. Talvez ele quisesse ficar sozinho. Mas mesmo assim ela foi até lá.
   -Oi.
   -Estou com raiva. Estou com muita raiva. Acho que a minha raiva é maior que a minha tristeza. É culpa deles. Culpa desses caçadores de pessoas sobrenaturais que ela morreu!- Disse o menino ainda com a cabeça baixa. Manuela sentou-se do lado dele.
   -Eu sei. Eu sei. E é por isso que precisamos pensar logo na tal caixa marrom. Precisamos ficar juntos, ser amigo um do outro.
   -Sabe, obrigado por estar aqui me aguentando, devo estar muito chato, mas é que...
   -Eu intendo. Intendo muito bem, você perdeu a única pessoa que amava que ainda estava viva.
   -Exatamente.
   -Pode ficar tranquilho, vou te ajudar no que precisar.

   O dia passou devagar. Manuela só conseguia pensar na Vitória e na caixa marrom. Depois da seis horas tomou um banho bem demorado. Quando terminou Augusto estava sentando em sua cama. 
   -Como conseguiu entrar?
   -Peguei as chaves de todos os cômodos daqui e fiz três cópias: uma para mim, uma para você e uma para o Lucas. Levei o corpo de Vitória para a família dela. O Lucas foi junto comigo. Ele está sofrendo muito.
   -Eu sei.
   -Mas mudando mais ou menos de assunto, eu pensei um pouco sobre a tal caixa marrom. Na sala do diretor da clínica tem uma caixa marrom. Mas o problema é que essa caixa é de concreto e está na parede, ou seja, para destruirmos, vamos precisar quebrar um pedaço da parede.
   -Sabe, também estive pensando nisso hoje. E por que teríamos que destruir uma caixa? Acho que dentro dessa caixa tem algo muito importante. Então antes de destruirmos, temos que pegar o que tem dentro.
   -Bem pensado, Manu! Nós temos que bolar um plano para destruir-la enquanto o diretor estiver fora! Então primeiro temos que saber quando ele está fora...
   



  

    


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