9 de set. de 2013

A Última Herdeira: VIII


   -Eu... eu estava terminando a consulta com a Manu. Só isso. É que nos empolgamos com a conversa sobre livros. Bom, então acho que está na hora de eu ir. Até amanhã, Manu.
   Augusto saiu do quarto sentindo que deveria ficar no quarto até Patrícia ir embora. Ele estava feliz e aliviado por ter contado para sua irmã tudo o que sabia. Mas ao mesmo tempo, sentia medo de alguém ter escutado tudo o que falou para ela. Ele fechou a porta, mas não foi embora. Encostou o ouvido na porta para poder escutar o que Patrícia tinha a dizer. Mas não pode ouvir nada, escutou passos próximos do lugar que estava. E logo foi embora.

   -Então... como foi o seu primeiro dia aqui na clínica?
   -Foi chato, muito chato!
   -Por que?
   -Porque eu não pude terminar minha conversa com o Augusto. Pensei que depois da minha consulta com ele, eu ia poder fazer o que quisesse, e eu queria ficar a noite inteira conversando com ele!
   -Mas acontece que vocês dois precisam descansar. Só vim ver se estava tudo bem. Estou indo embora, tchau! E ah, já ia me esquecendo, tente não chorar de saudades da mamãezinha, está bem?
   Patrícia saiu do quarto deixando Manuela irritada e agitada. Ela nunca fora com a cara da mulher, mas a cada palavra que ela dizia, a menina a detestava ainda mais. E agora que ela sabia do verdadeiro motivo pelo qual ela e outras pessoas estavam ali, tinha de se controlar para não dizer tudo o que sabia.
   Ela decidiu ir dormir. Deitou na cama mas só conseguiu rolar de um lado para outro pensando em tudo que seu irmão dissera. Ela tinha não apenas um, mas dois irmãos. E tinha dois pais. E estava em um lugar cheio de inimigos. Pessoas que só queriam usá-la para o mal. Ela queria ir embora, mas não queria deixar Augusto e Lucas sozinhos. E havia mais uma pessoa que ela não queria deixar. Vitória. Ela não havia conhecido vitória ainda, mas pelo pouco que sabia da garota, já a admirava muito.
   Foi então que decidiu conhecê-la. Ela colocou um roupão por cima do pijama e saiu do seu quarto tentando não fazer barulho. Entrou no elevador e não achou um botão com um "E"- enfermaria. Por isso teve que ir de andar em andar procurando o lugar. Ela demorou duas horas até entrar em uma porta preta no 15º andar. Foi a primeira porta que tentou abrir que estava aberta.
   Quando entrou no cômodo, fechou a porta e ouviu alguém chorando. Estava muito escuro, e cheirava bolor. Quando ela acendeu a luz, pôde ver quem estava chorando. Lucas estava sentado ao lado de um colchão com uma pessoa deitada nele. Manuela se aproximou com cuidado, pois o garoto parecia nem ter notado a garota.
   -Lucas, essa é a... 
   -Vitória. Essa é a Vitória.
   -Eu achei que ela estivesse na enfermaria.
   -E ela estava. Mas fui até lá e tirei ela daquelas agulhas. Ela precisava parar de receber remédios no sangue. Não sei se ainda dá tempo de salvá-la...
   -Como você fez isso?
   -Eu fiquei na enfermaria quando cheguei aqui, por isso sabia onde era. A porta estava trancada, mas o Augusto conseguiu as chaves da porta de lá e do depósito de vassouras- que é aqui- me disse para tirá-la de lá e trazê-la aqui. Ele ia tentar conseguir um antídoto pra todo esse remédio, mas até agora não chegou.
   -Ma... uela?
   -Ela falou alguma coisa! Manu, me ajude aqui!
   -Manuela? É você?- Vitória havia aberto os olhos os mexia de um lado para outro tentando focalizar a bruxa, mas era como se seus olhos não parassem. Manuela se aproximou de Vitória e disse:
   -Sou eu. Eu estou aqui, Vitória.
   -Hexe mandou eu lhe dar um recado antes de partir: a única maneira de conseguir salvar todo mundo aqui é destruindo a caixa marrom.
   -Mas que caixa marrom? 
   Vitória tentava falar, mas as palavras não saim de sua boca. Ela estava ficando mais fria, e seus olhos estavam se fechando devagar.
   -Vitória, e eu? Como eu fico? O que eu faço? Vitória, eu amo você. Você é a única família que tenho. Lembra de nossos planos para quando formos sair daqui? Não desista. Não vá, por favor.
   -Eu amo você, Lucas. Eu amo você, mas preciso ir. Você precisa confiar na Manuela. Precisa confi...
   Ela desabou. Seus olhos se fecharam e sua cabeça caiu para o lado. Lucas se jogou em cima do corpo gelado de Vitória. Ele chorava de um jeito que Manuela jamais chorou em toda sua vida. Só nessa hora ela pode ver o quão bela Vitória era. Era uma linda menina com longos cabelos ondulados e ruivos. Uma pele branca com muitas sardas.  Tinha os traços finos como de uma princesa. Ela era magra e parecia ser alta.
   -Ela morreu! Ela morreu! Ela não podia ter me deixado! Eu estou sozinho agora, sozinho! Não tenho mais ninguém, e nunca mais vou ter! Eu quero morrer, eu prefiro morrer do que viver sem ela. O único motivo de eu não ter morrido de depressão antes foi ela. E agora ela se foi...


   

   

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